O dízimo é uma prática ancestral que atravessa milênios, com raízes profundas na tradição bíblica e implicações significativas na teologia, na cultura e na vida comunitária. A seguir, apresento uma análise abrangente sobre sua origem, evolução e significado.
📜 Origem e Significado do Dízimo
A palavra "dízimo" deriva do hebraico ma'aser, que significa literalmente "um décimo". Etimologicamente, o termo também tem origem no latim decimus, indicando a décima parte de algo. Na Bíblia, o dízimo é mencionado em diversos contextos, inicialmente como uma expressão voluntária de gratidão e, posteriormente, como uma obrigação legal.
📖 O Dízimo no Antigo Testamento
1. Abraão e Melquisedeque
A primeira referência ao dízimo na Bíblia ocorre em Gênesis 14:18-20, quando Abraão entrega a décima parte dos despojos de guerra a Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo. Este ato é interpretado como um reconhecimento da soberania de Deus sobre todas as coisas.
2. Institucionalização na Lei Mosaica
Com Moisés, o dízimo é formalizado como parte da Lei dada a Israel. Em Levítico 27:30-32, é determinado que um décimo de todos os produtos da terra pertence ao Senhor. Este dízimo tinha como finalidade o sustento dos levitas, que não possuíam herança territorial, e o apoio aos necessitados, como órfãos, viúvas e estrangeiros (Deuteronômio 14:28-29).
3. Diversidade de Dízimos
A prática do dízimo no Antigo Testamento era multifacetada:
- Maasser Rishon: O primeiro dízimo, destinado aos levitas.
- Maasser Sheni: O segundo dízimo, consumido pelos próprios ofertantes em Jerusalém durante festividades religiosas.
- Maasser Ani: O dízimo dos pobres, entregue no terceiro e sexto anos do ciclo de sete anos.
✝️ O Dízimo no Novo Testamento
No Novo Testamento, a prática do dízimo não é enfatizada como no Antigo. Jesus menciona o dízimo em Mateus 23:23 e Lucas 11:42, criticando os fariseus por cumprirem a obrigação do dízimo, mas negligenciarem aspectos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fé. Ele não condena o dízimo, mas ressalta que deve ser praticado juntamente com outras virtudes essenciais.
A Epístola aos Hebreus (7:1-10) retoma a figura de Melquisedeque para discutir a superioridade do sacerdócio de Cristo, mencionando o dízimo de Abraão como parte dessa argumentação teológica.
🏛️ Evolução Histórica e Prática Contemporânea
1. Período Pós-Bíblico
Após o período bíblico, a prática do dízimo continuou a evoluir. Nos primeiros séculos do cristianismo, a contribuição financeira era voluntária. A obrigatoriedade do dízimo surgiu gradualmente, sendo formalizada em diversos concílios eclesiásticos, como o Concílio de Tours (567 d.C.) e o Segundo Concílio de Mâcon (585 d.C.), que estabeleceram normas para sua coleta e destinação.
2. Prática Atual
Hoje, a prática do dízimo varia entre diferentes denominações cristãs. Em muitas igrejas, é incentivado como uma expressão de fé e compromisso com a comunidade, sendo utilizado para o sustento do ministério pastoral, manutenção de templos e apoio a obras sociais.
A abordagem contemporânea enfatiza a voluntariedade e a generosidade, alinhando-se aos princípios do Novo Testamento sobre contribuição.